Amor com a cidade é um filme que é um filme em si, mas que é, também, parte do registro de uma experimentação sexual com as cidades de São Paulo e Porto Alegre. É uma experimentação sobre tesão, espaço urbano, pornografia, mulher, público, e câmera.
Em meados de abril de 2011, por adorarmos as discussões sobre pósporno e feminismo pró sexo, começamos um grupo de pesquisa em póspornografia em São Paulo, o pornô clown (Juliana Dorneles, Violácera, Fabi Mitsue, Fabi Borges, Antônio Brasiliano, Gabriel Bitar, Vanessa Espíndola, Luciana Costa e George Sander). Queríamos pensar (e produzir) nossos próprios conteúdos pornográficos.
De muitas pesquisas de material de interesse (uma parte desse conteúdo encontra-se no blog sexoipalhacadas), surgiu a idéia de filmar o que na época chamávamos de “Amor à cidade”. Basicamente era uma idéia bem simples e fácil de executar: Uma garota fazendo amor com a arquitetura de São Paulo.
Filmamos numa quinta-feira a noite. Passamos a madrugada fazendo amor com o Viaduto Costa e Silva (Minhocão), Viaduto Santa Ifigênia e Praça da Sé. No início tudo era meio tímido, a poluição e a fuligem davam um certo nojo, havia ainda algum pudor. Mas a medida que adentramos nos confins do centro (e num bar, em especial), a cidade como que foi nos convidando para mais imagens de si. Era quase ela, agora, que era uma densa exibicionista que se mostrava e pedia nosso desejo.
A experiência e as imagens foram incríveis. Foi tão inspirador que resolvi fazer em Porto Alegre, aproveitando que eu estava na cidade por uns dias (afinal, Porto Alegre é onde eu nasci). Um grupo de amigos de Porto Alegre topou lindamente a viagem sexual pelas ruas, escadarias e esquinas cheias de (especialmente para mim) memórias. Amor com uma escadaria da rua Duque de Caxias, com o Viaduto da Av. Borges de Medeiros, no bar Tutti Giorni, no Gazômetro, no Mercado Público. Novamente a noite foi cheia de orgasmos. As imagens, cruas e documentais. Amamos.
Assim, chegando em São Paulo, demos seguimento ao projeto, agregando outros amigos (Luiza Só, Caroline Barrueco, Lorean Linchen, Felipe Ribeiro) para editar o filme, compor a trilha e trabalhar na cor.
Em junho de 2012 o filme estreou na mostra PopPorn (curadoria da X-plastic).
O filme foi feito com muitas mãos e sem nenhum patrocínio. Para mim, realizar este filme foi expandir as fronteiras do teatro e do palhaço (onde me localizo no campo das artes cênicas) e levar o viver a cidade às últimas eróticas conseqüências. Creio que a cidade, podendo ser vista eroticamente, vai além de seu espaço utilitarista e pode ser namorada, adorada, e receber todas as emoções que o espírito humano pode abrir em si com ela.
Tem quem queira discutir formas heteronormativas e antropocêntricas, típicas do modus operandi humano de viver. E também dá. Mas não sei se foi por isso que a gente fez o filme.
A gente fez o filme porque era gostoso.
Juliana Dorneles (atriz).
About the film Loving the City
Loving the city is a film that is a film itself, but it is also the record of a sexual experimentation with the cities of São Paulo and Porto Alegre. It is a trial about randiness, urban space, pornography, women, public, and camera.
In mid-April 2011, in São Paulo, we formed a group of people interested in posporno and pro sex feminism: the clown porn (Juliana Dorneles, Violácera, Fabi Mitsue, Fabi Borges, Antonio Brasiliano, Gabriel Bitar, Vanessa Espindola, Luciana Costa and George Sander). We liked to think (and produce) our own pornography.
Embedded in many researches of material (a part of this content is in sexoipalhacadas blog), the idea of filming what was then called “Love the city” seemed to be nice. Basically it was a simple idea and easy to implement: A girl making love with the architecture of São Paulo.
We shot on a Thursday night. We spent the night making love to the Viaduct Costa e Silva (Minhocão), Viaduct Santa Iphigenia and Praça da Sé. In the beginning everything was kind of shy, pollution and the soot gave some disgust, there were still some shame. But as we went deeper the center (in a bar, in particular), the city invited us for more pictures of itself. It was like if the city, now, was a dense exhibitionist who showed up and asked our desire.
The experience and the pictures were awesome. It was so inspiring that once I was on vacation in Porto Alegre, I liked to do there too (after all, Porto Alegre is where I was born). A group of friends from Porto Alegre were in, beautifully, and joined the sexual journey through the streets, stairs and corners full of (especially for me) memories. Love with a staircase from the street Duque de Caxias, in the Viaduct of Borges de Medeiros Avenue, in the bar Tutti Giorni, in Gazômetro, in the Public Market. Again the night was full of orgasms. The images, raw and documental.
We loved it.
So, arriving in Sao Paulo, we proceed with the project. Other friends came together to edit the film, compose the score and work in color (Luiza Só, Caroline Barrueco, Lorean Linchen, Felipe Ribeiro).
In June 2012 the film premiered at PopPorn2 (curated by X-plastic).
The film was made with many hands and no sponsorship. For me, realize this movie was an enlargement of theater and clown boundaries for myself (those fields where I find myself in performing arts), and also living the city at its last erotic consequences. I think the city, being seen erotically, goes beyond its utilitarian space to be worshiped, dated, and receive all the emotions that the human spirit can open in itself with her.
There are those who want to discuss heteronormative and anthropocentric norms, typical modus operandi of human life. It is possible. But I do not know if that’s why we made the film.
We made the film because it was hot.
Juliana Dorneles (actress).